Proporcionar encontros que valorizem a sociobiodiversidade, possibilitando a troca de saberes e fazeres. Esta é a missão da Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge, nascida em meio ao cerrado goiano, em 1997, no distrito de São Jorge, antiga vila de garimpeiros, à entrada do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, Patrimônio Natural da UNESCO. Valorização cultural, força, fé, alegria, resistência e diversidade são os valores que norteiam a história do Cavaleiro – como é chamado pela comunidade –, erguido em paredes de pedra toá, típica da região, com o propósito de ser um espaço democrático para manifestações da cultura popular tradicional e um símbolo sustentável de fortalecimento das expressões da diversidade cultural.
Em julho de 1998 e 1999, a Casa realizou dois festivais independentes de cultura, contando somente com o voluntariado de seus membros e da comunidade. Mal se imaginava que ambos se tornariam o alicerce de um projeto muito maior, que nasceria em julho de 2001: o I Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros. Com o propósito de reunir expressões culturais tradicionais do Brasil, com destaque aos grupos da Chapada, se tornou um grande encontro anual de música, dança e fé.
A partir do Encontro, novos projetos socioculturais começaram a fluir. Em 2003, a Casa de Cultura ganhou a parceria e os sonhos da artista popular Doroty Marques, que aqui instalou o Turma Que Faz, que envolve as crianças e adolescentes da região da Chapada dos Veadeiros em atividades educativas, artísticas, culturais, esportivas e ambientais. Alguns anos depois, em 2007, foi a vez da Aldeia Multiétnica ganhar vida e proporcionar vivências e integração com costumes, tradições e modos de vida de etnias indígenas do Brasil e das Américas. Da mesma forma, o Encontro de Lideranças Quilombolas de Goiás teve sua primeira edição realizada em 2012 e firmou-se na agenda oficial do Encontro com a proposta de reunir lideranças de comunidades quilombolas do estado na discussão de políticas públicas voltadas aos povos tradicionais.
Ao longo do ano, a Casa de Cultura continua com atividades socioculturais pontuais, como palestras, oficinas de capacitação, vivências indígenas na Aldeia e comemorações religiosas do calendário popular, como a Semana de Jorge, em homenagem ao santo padroeiro da vila, São Jorge. As portas estão sempre abertas aos grupos minoritários que desejam expandir seu trabalho e essência, assim como artistas de todo o Brasil. Aos fins de semana, o Cavaleiro também realiza bailes de forró e de outros ritmos brasileiros. É o maior espaço de entretenimento da Chapada dos Veadeiros.
A equipe da Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge mantém contato constante com as comunidades tradicionais que participam dos projetos, com o objetivo de trocar informações, pensar em novas ideias, ajudar no que estiver ao seu alcance e documentar as práticas culturais, sociais e históricas desses povos por meio de reportagens, fotos e vídeos para suas redes sociais e sites.
Em reconhecimento de sua importância, foi nomeada Pontão de Cultura pelo Ministério da Cultura e recebeu prêmios como o Cultura Viva, do mesmo Ministério, que selecionou o Encontro de Culturas como uma das 10 melhores iniciativas em prol das culturas populares e tradicionais do País. Em 2015, o evento foi consagrado com o prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, realizado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), na categoria II, que contempla iniciativas de excelência na promoção e gestão compartilhada do Patrimônio Cultural. O prêmio prestigia ações que demonstram compromisso e responsabilidade com a preservação do patrimônio cultural brasileiro. Em 2017, a Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge foi contemplada com o Prêmio Culturas Populares – Edição Leandro Gomes de Barros, promovido pela Secretaria da Cidadania e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura.
Na vila de São Jorge, a instituição provocou muitas transformações sociais e culturais. A conjunção entre seus eventos, projetos e ações socioculturais e as belezas naturais dos atrativos ecológicos da região da Chapada dos Veadeiros transformou a vila em um dos destinos turísticos mais visados do estado de Goiás, chegando a receber 30 mil turistas na segunda quinzena do mês de julho, durante o Encontro de Culturas, o que estimula a geração de renda local e o aperfeiçoamento dos estabelecimentos, impulsionados por turistas de todo o País e do exterior, das mais diferentes culturas e realidades. Para a população, a percepção de mundo foi ampliada com o acesso aos conhecimentos trazidos todos os anos pelos convidados da Casa, como grupos de música, dança, teatro, artistas plásticos, pesquisadores, produtores culturais e especialistas em diferentes áreas da cultura. Um conteúdo que na maioria das vezes é disponibilizado apenas nos grandes centros, a partir deste trabalho chega ao interior do estado de Goiás. Povos indígenas, remanescentes quilombolas, raizeiros, rezadeiras e demais detentores de saberes e fazeres tradicionais foram fortalecidos ao longo dos 20 anos da Casa e, como fazem parte da realidade local da região da Chapada dos Veadeiros, proporcionaram à população um empoderamento ao abrir os olhos de muitos nativos sobre a riqueza de seu conhecimento e sobre as diferentes maneiras de levá-lo adiante, perpetuando-o nas futuras gerações, e também a usá-lo como meio de sustento.
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